Todas as atividades antrópicas têm acarretado descartes incorretos de inúmeros poluentes nos recursos hídrico brasileiros. Dentre tantos poluentes, destaca-se os compostos recentemente criados e produzidos em larga escala, e esses são denominados de microcontaminantes emergentes.
Quais são os principais microcontaminantes emergentes?
Os principais exemplos dos microcontaminantes emergentes são: medicamentos, produtos de beleza cmoo os cosméticos, plastificantes, hormônios (naturais e sintéticos) e outros compostos imensamente utilizados pela população. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA, 2010) os microcontaminantes emergentes também conhecidos como desreguladores endócrinos são “agentes exógenos, que mesmo em concentrações-traço (ng/L ou µg/L), quando consumidos possuem a capacidade de interferir diretamente no nossa saúde e consequentemente na manutenção, reprodução, desenvolvimento e no comportamento do nosso organismo”.
Todos esses microcontaminantes emergentes são cada vez mais utilizados pela população brasileira e são descartados de forma incorreta, diariamente, nos cursos d’água. Após serem descartados de forma incorreta nos esgoto sanitários, nos efluentes industriais e até em chorume de aterro sanitário, são encontrados em baixas concentrações nos diversos cursos d’água (águas superficiais e subterrâneas). Porém, mesmo que estes estejam presentes em baixas concentrações na natureza, os microcontaminantes têm chamado a atenção da comunidade científica devido a possibilidade de danos e efeitos adversos ao meio ambiente e à saúde humana, caso esses compostos estejam presentes nas águas de abastecimento público (Bergman et al., 2012).
Principais efeitos dos microcontaminantes emergentes na saúde da fauna aquática e humana
Os estudos pioneiros de detecção de microcontaminantes no meio ambiente iniciaram nos Estados Unidos (EUA) ainda na década de 1970 (Garrison et al., 1976). Em águas brasileiras, os primeiros trabalhos a respeito do monitoramento dos microcontaminantes foram publicados em meados da década de 1990 por Ternes et al. (1999) e Stumpf et al. (1999), que monitoraram alguns microcontaminantes no esgoto (bruto e tratado) e em águas naturais no Rio de Janeiro.
Já em terras mineiras (Minas Gerais) as pesquisas iniciais apresentaram dados de monitoramento de diversos microcontaminantes em águas naturais em distintas épocas do ano (estiagem e chuvosa), incluindo águas da bacia do Doce (Moreira et al. 2009; 2011 Rodrigues 2012; Quaresma 2014 e Dias 2014). Esses estudos evidenciaram a grande diversidade de compostos presentes nas águas superficiais mineiras, bem como a amplitude de concentração dos compostos detectados.
Através de diferentes estudos científicos é comprovado que os microcontaminantes podem acarretar diversos efeitos prejudiciais à fauna aquática, podendo propiciar diversos danos, destacadamente como feminização de machos; declínio na capacidade de reprodução; ocorrência de óbitos e danos a descendentes (Robinson et al., 2003). Todos esses efeitos já foram observados em animais da fauna aquatica em diversos trabalhos científicos. Contudo, ainda os estudos em humanos são raros, dificultando a relação causa efeito do consumo de águas poluídas sem controle nenhum. Mesmo assim, como para qualquer medicamento, o consumo inapropriado pode levar à danos sérios à saúde dos humanos.
Tecnologia de tratamento para remoção dos microcontaminantes emergentes
Os sistemas de tratamento de esgoto sanitário, efluentes industriais e chorume de aterro sanitários não possuem tecnologia suficiente para proporcionar uma adequada eficiência de remoção de todos esses compostos emergentes. Nesse péssimo cenário nacional, o Brasil pode explicar o porquê das concentrações desses microcontaminantes emergentes serem detectadas nos recursos hídricos, em sua maioria, superiores às relatadas em países desenvolvidos como EUA, Espanha, Alemanha e Canadá (Ghiselli & Jardim, 2007). Esses descartes ocorrem através do lançamento de águas residuárias de origem industrial, hospitalar e doméstica sem o devido tratamento adequado, principalmente nas regiões com elevada densidade populacional e durante os períodos de poucas chuvas.
Legislação ambiental e os microcontaminantes emergentes
A portaria de potabilidade que estabelece os procedimentos e responsabilidades relacionadas ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano em vigência é a Consolidação de número 5 do Ministério da Saúde (Brasil, 2017). Vale descartar que essa portaria ainda não contempla os microcontaminantes emergentes. Devido a isso, as concessionárias de águas brasileiras ainda não fazem o devido monitoramento dos microcontaminantes, bem como o correto tratamento para detecção e remoção desses compostos. Nesse cenário, as populações que fazem uso dessas águas contaminadas estão em constante consumo dos microcontaminantes emergentes sem nenhum conhecimento prévio.
A fim de proporcionar a remoção desses microcontaminantes, o tratamento convencional de águas de abastecimento é constituído das etapas de coagulação, floculação, sedimentação/flotação, filtração e desinfecção. Contudo, em águas com presença de microcontaminantes somente o tratamento convencional não é suficiente para a remoção completa. Com o avanço da tecnologia, novos tratamentos já estão disponíveis no mercado com elevadas eficiências de eliminação dos microcontaminantes emergentes (Lima et al., 2017).
Tecnologias de tratamento e remoção dos microcontaminantes emergentes
Exemplo das tecnologias de tratamento economicamente viáveis são os processos que envolvem técnicas de adsorção. Dentre os adsorventes mais utilizados o carvão ativado tanto em pó (CAP) quanto o granular (CAG) apresentam os melhores custos-benefícios, uma vez que proporcionam elevadas eficiências de remoção (em geral superiores a 95%). No mercado de tecnologia existem tecnologias ainda mais eficientes como os Processos Oxidativos Avançados (POA), as quais se destacam com eficiências superiores a 98%. Além desses, também existe o processo de separação por membranas que apresentam eficiência de remoção variável e dependente do tipo de material empregado. A adoção de tais sistemas complementares de tratamento envolve uma análise econômica detalhada e requer estudos específicos como este para otimizar as condições operacionais às particularidades da água bruta (Lima et al., 2017).
Bacia do Rio Piracicaba e os Microcontaminantes emergentes
A bacia do Rio Piracicaba (Sub bacia do Rio Doce) recebe, diariamente, todas as principais fontes de microcontaminantes como os esgoto sanitário, efluentes industriais e hospitalares, descartes de resíduos sólidos e chorume de aterro sanitário. Dessa forma, a Expedição Rio Piracicaba realizada nos meses de maio e junho monitorou, além de parâmetros que demonstram o índice de qualidade (pH; turbidez, cor, coliformes, nitrogênio, fósforo, DBO5, temperatura, sólidos totais e Oxigênio Dissolvido), 13 microcontaminantes emergentes, a saber:
Fármacos: naproxeno, diclofenaco, ibuprofeno, paracetamol e gemfibrozila;
Plastificantes: bisfenol-a; 4-nonilfenol e 4‑octilfenol;
Hormônios naturais: estradiol;
Metabólicos de fármacos: estrona e estriol;
Marcador de contaminação antropogênica: cafeína.
Os resultados do monitoramento da Expedição das águas do Rio Piracicaba e seus principais afluentes contribuirão para atualizar o real cenário da bacia, determinando os principais poluentes e suas fontes de lançamento. Quer saber mais sobre a Expedição Piracicaba? Além disso, os resultados desse monitoramento poderão orientar os órgãos públicos com relação à adequações e instalações das estações de tratamento de águas (ETA), esgotos e efluentes industriais (ETE) com quais tecnologias de tratamento poderão implementar para evitar que a população abastecida consuma águas contaminadas.
Quer saber ainda mais sobre os microcontaminantes emergentes, seus efeitos na nossa saúde e as principais tecnologias para remoção desses compostos das águas naturais? Baixe meu artigo de revisão da literatura, no qual você poderá ver todos os trabalhos brasileiros realizados sobre esse tema e as principais tecnologias mundiais para remoção desses compostos.
https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/playlist/videos-mg1-de-segunda-feira-27-de-maio.ghtmlhttps://g1.globo.com/mg/minas-gerais/playlist/videos-mg1-de-segunda-feira-27-de-maio.ghtml
https://www.flipsnack.com/TribunadoPiracicabaAVozdoRio/tp-249-especial.html